quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

o oco!


Ela apoiou os cotovelos na sacada de ferro gelada, a rua estava deserta e a pouca luz dos postes refletia nos paralelepípedos molhados pelo chuvisco, dando um tom adouradado à cena. Puxou o último cigarro do maço, prendeu-o entre os dentes e observou quieta por um instante o barulho do silêncio. Então, acendeu e deu um longo trago saboroso, enchendo os pulmões de fumaça, e soltando vagarosamente deixou tudo sob uma névoa branca e densa. Não ventava muito naquele verão e as poucas árvores que davam à rua um aspecto de interior, estavam intactas no dourado nebuloso daquela noite de terça feira. Pareciam olharem para ela, compartilhando cada tragada daquele silêncio oco. Virou-se e viu o quarto de colcha rosa e armários brancos. A pequena luminária ligada na tomada era quem iluminava tudo de lilás. A porta da sacada de vidros coloridos estava entreaberta e registrava seu reflexo parada, fumando. O vento começou de repente, as folhas desprendiam-se das árvores e dançavam sincronizadamente como num balé. Ela já tinha visto essa cena, num outro dia, menos triste e menos vazio. Os pingos cheios começaram a cair e deram um ritmo duro a situação toda. E ela, permaneceu ali, parada, fumando. Deixou a chuva molhar seus cabelos curtos, seu corpo inerte, e suas unhas azuis.

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