terça-feira, 16 de dezembro de 2008

exatamente aqui!



O que chamou a atenção foi o som da flauta que mesmo sendo transversal era doce. Sentou na janela do quarto, a brisa compunha a cena fazendo seus longos cabelos indicarem a direção do som. Ali de cima ela podia ver tudo, toda a vizinhança. Os quintais das casas de trás, as fachadas das da frente, e as janelas das que também eram sobrados. As vezes espiava pela fresta da janela por um dia inteiro a rotina de uma casa, gostava de saber como as pessoas agem quando não sabem que estão sendo vistas. Viu aquela briga do casal da frente, a discussão durou três dias, e a reconciliação seis, acompanhou cada capítulo com imenso entusiasmo. Viu quando o cachorro da vizinha morreu, e não tinha ninguém em casa, viu quando eles chegaram e a tristeza. Ouviu e viu os dias que a criança da esquerda a frente gritava chamando o Papai Noel e o vizinho colado aqui a direita respondia ho ho ho, e a menina ficava muda olhando com cara de quem viu assombração, mas feliz. Não comentou com ninguém, agiu como se fosse segredo, e as vezes a menina ia até a janela e chamava novamente por ele.... e ele respondia... e ela saia satisfeita. Hoje todas as janelas estavam fechadas menos essa. A Lua não apareceu nesse dia, mas haviam algumas estrelas, poucas, mas presentes. As nuvens brancas contrastavam com o azul escuro do céu, e também seguiam o som, tomando formas que só para ela faziam sentido. O telhado da casa da frente cobria o terraço da casa do outro lado da rua, onde estavam todos eles tocando e cantando, ela não via, mas ouvia cada nota. Uma voz linda cantava Chico, sua música preferida, numa afinação surpreendente, pensou em ir até lá e tocar a campainha, mas sentiu que o resto também lhe dava muito prazer. Olhar as nuvens, as casas dormindo, o perfume que a brisa trazia, o friozinho da madrugada, tudo se encaixava perfeitamente com a música, viu que queria estar exatamente ali, onde estava. Gostava de ficar sozinha, mesmo sendo sábado. Pensou que poderia estar em milhares de lugares nesse momento nessa cidade grande, cheia de infinitas possibilidades, mas realmente preferia estar ali. A dama da noite floria de novo, flores tão pequenas e tão perfumadas. Olhou em volta e algumas casas já piscavam as luzinhas de Natal. Algumas amarelinhas piscavam desordenadas nas sacadas e janelas de uma casinha bem a direita no fim da rua, e umas vermelhinas e verdes acompanhavam o telhado duas para cá. A esquerda do lado de cá da rua via um Papai Noel inflável preso no muro. Ele não estava nem em cima nem embaixo, estava amarrado bem no meio do muro, flutuando. Ela lembrou da mãe que iluminava a casa toda no Natal. Contornava cada porta por dentro e por fora. Eram luzinhas brancas que piscavam e tocavam música. O pai companheiro como sempre tratava de pregar tudo com seu cuidado especial. E tudo ficava lindo. Iluminado.
De repente a música parou, ouviu a conversa de longe, mas não entedia o que diziam. Ouviu eles entrando na casa e nessa hora, que acenderam a luz de dentro, viu todos passarem pela sala com garrafas, copos, e instrumentos... carron, flauta, chocalho, baixo acústico (grande e lindo, ela ficou hipnotizada durante a sua passagem breve pelo curto espaço da janela), acordeon, pandeiro, e violão. A última a passar que estava sem instrumento nenhum aparente, e devia ser a dona da voz, fechou a janela. Ela olhou a última vez para o céu e pulou para dentro do quarto, deitou e se enrolou no cobertor macio, e fechou os olhos, tinha muitas coisas para pensar agora.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A maldição do samba




Páticarigundum... páticarigundum... páticarigundum... adiguirimguidim...
e o coração acelera...
páticarigundum adiguirim adiguirim... adiguirimguidim... adiguirimguidim...
o corpo vibra sozinho....
o calor....
não existe pensamento, só sensação....

não sei que coisa é essa que o batuque faz comigo, desde que nasci sempre me achei negra!

Quero morrer numa batucada de bamba... na cadência bonita do samba!

é doce e azedo!


Prefiro morango. Prefiro morrer de amor, do que viver sem amar. Prefiro arriscar tudo mesmo desconfiando que não vai dar certo. Prefiro tomar a iniciativa do que esperar que alguém faça alguma coisa. Prefiro tocar do que dançar conforme a música. Prefiro pintar a unha de azul do que seguir a moda. Prefiro ficar sozinha do que mal acompanhada. Prefiro ser atriz sem grana do que advogada rica. Prefiro samba que música eletrônica... porque bate no coração e na alma, porque posso ser o que eu quiser inclusive uma advogada rica, porque sou uma ótima companhia, porque gosto de unha azul e foda-se a moda, porque se quero um rock... é um rock que eu vou ter, porque assim as coisas se resolvem mais depressa, porque tudo muda sem a gente esperar, porque amar é viver, porque é doce... e azedo!

sábado, 15 de novembro de 2008

A formiga: PARTE 1



Ela estava sozinha, sozinha mesmo, olhei por toda a volta e não vi nenhuma companheira por perto. Quem será que ela estava seguindo, será que ela estava perdida?? Cadê sua fila, como sabia para onde ia? Tentei colocar mil obstáculos para ver se ela mudava de direção mas não, ela não parava nem um minuto, sinal que não pensa, ela não parou para pensar em nenhum minuto, tinha certeza do que tinha que fazer. Quanto mais eu a perturbava , mais rápida ela ficava, determinada. Resolvi deixa-la em paz, mas a segui. Ela atravessou todo o tapete, a sala, entrou na cozinha, deu a volta, e foi em direção ao armário. Quando subiu na parede... caiu, caiu dura e imóvel no chão. Estranho.... muito estranho... ficou lá uns 40 minutos. Guardei ela numa caixinha de fósforo, mas no dia seguinte ela tinha sumido de lá, ela e três bolachas recheadas. Eita formiguinha danada. Anda por aí sozinha e quando vê que está sendo seguida se faz de morta, para me assaltar de madrugada.

vida!



Só no inverno eu consigo me lembrar do frio que faz o vento frio do inverno... e só no verão eu consigo me lembrar do cheiro das chuvas fortes de verão. Hoje ela durou exatamente 30 segundos. Subi as escadas correndo para fechar as três janelas. Fechei a primeira, e vi pelo vidro a cortina de água formada lá fora, gotas grossas e rápidas caiam do céu como se tivessem vida, formando e desformando desenhos sob os telhados, determinadas a cair. Corri, fechei a segunda, e ouvi o vento regendo a orquestra, fechei os olhos e ouvi o som.... a música. Corri, mas já havia molhado a colcha azul, e antes que eu alcançasse a terceira... a chuva parou. Debrucei na janela molhada e estendi a mão para fora, senti o vento suave.... mas nem uma gota de chuva... nem grossa, nem fina. A dama da noite dançava com o vento... movimentos circulares e leves acompanhavam o canto suave, e seu perfume se espalhava mais que o normal, como se estivesse mais feliz. A orquídea amarela que nasceu ali por acaso, acompanhava agarrada no tronco. Fiquei ali observando com a mão esticada...
Cai chuva cai... quero dançar também, hoje eu realmente não me lembro do frio que faz o vento frio do inverno.

sábado, 8 de novembro de 2008

É.... para isso! (Poema de Natal)



Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente
Vinicius de Moraes

Eu sei...




E o rosto de amanhã?
Será..
Assim agitado, assim alegre... assim corado,
e os olhos cheios de vida, e os lábios sempre doces,
as mãos serão firmes... tão ágeis, e quentes, e vivas...
Como vidro transparente o coração bate... e mostra...
Não vou dar por essa mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Nesse espelho me reencontro... mais bonita!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O lugar aprisiona as idéias!



Todo dia, todo dia!
Acordo 6h30, escovo os dentes, tomo banho, escolho uma roupa adequada, maquiagem, perfume, café, leite, óculos de grau, vou ao trabalho, Ana, Marcos, Ricardo, Andréa, bom dia, Rogério, Natália, Guilherme. Assino, almoço, assino, ar condicionado, debato, café, cigarro, volto para casa, compro pão, presunto, queijo, tomo lanche, comida para o cachorro, banho. Lavo um braço o outro braço, barriga, bunda, orelha, joelho, outro joelho, atrás, na frente, pé e pé, pescoço, rosto, nuca, escovo os dentes, pijama, novela, beijo, sexo, preguiça, sono, boa noite, 23h30 dormi.
Acordo 6h30, escovo os dentes, tomo banho, escolho uma roupa adequada, maquiagem, perfume, café, leite, óculos de grau, vou ao trabalho, Ana, Marcos, Ricardo, Andréa, bom dia, Rogério, Natália, Guilherme. Assino, almoço, assino, ar condicionado, debato, café, cigarro, volto para casa, compro pão, presunto, queijo, tomo lanche, comida para o cachorro, banho. Lavo um braço o outro braço, barriga, bunda, orelha, joelho, outro joelho, atrás, na frente, pé e pé, pescoço, rosto, nuca, escovo os dentes, pijama, novela, beijo, preguiça, preguiça, sono, boa noite, 23h23 dormi.
Acordo 6h30, escovo os dentes, tomo banho, escolho uma roupa adequada, maquiagem, perfume, café, leite, óculos de grau, vou ao trabalho, Ana, Marcos, Ricardo, Andréa, bom dia, Rogério, Natália, Guilherme. Assino, almoço, assino, ar condicionado, debato, café, cigarro, volto para casa, compro pão, presunto, queijo, tomo lanche, comida para o cachorro, banho. Lavo um braço o outro braço, barriga, bunda, orelha, joelho, outro joelho, atrás, na frente, pé e pé, pescoço, rosto, nuca, escovo os dentes, pijama, novela, preguiça, preguiça, preguiça, sono, boa noite, 23h24 dormi.
O aprisionamento da alma, o lugar que aprisiona, só penso e faço isso, só vejo e falo com as mesmas pessoas, as idéias mudam mas são sempre as mesmas, os assuntos mudam mas são sempre os mesmos, os mesmos pontos de vista, os mesmos conselhos, as mesmas tristezas, os mesmos problemas.... mas... e as soluções?? Não estão ali. O coração se acomoda.
Bom dia, bom dia!
Acordo 11h30 e fico na cama até 12h, coloco qualquer roupa, óculos de Sol, banho no cachorro, banho de esguicho. Cinema, teatro, Marina, Clarissa, Thiago, André, cerveja, Cristina, Rogério, Felipe. Pizza, conversa, o tempo, fofoca, eu rio, e rio, Chico, Tom, Cartola, Vinícius, sexo, sexo, sexo, conversa, 4h30 dormi.
E encontro todas as respostas... o coração dispara!
Todo dia, todo dia!
Acordo 11h30 e fico na cama até 12h, coloco qualquer roupa, óculos de Sol, banho no cachorro, banho de esguicho. Cinema, teatro, Marina, Clarissa, Thiago, André, cerveja, Cristina, Rogério, Felipe. Pizza, conversa, o tempo, fofoca, eu rio, e rio, Chico, Tom, Cartola, Vinícius, sexo, sexo, sexo, conversa, 4h30 dormi.
Acordo 11h30 e fico na cama até 12h, coloco qualquer roupa, óculos de Sol, banho no cachorro, banho de esguicho. Cinema, teatro, Marina, Clarissa, Thiago, André, cerveja, Cristina, Rogério, Felipe. Pizza, conversa, o tempo, fofoca, eu rio, e rio, Chico, Tom, Cartola, Vinícius, sexo, sexo, sexo, conversa, 4h45 dormi.
Acordo 11h30 e fico na cama até 12h, coloco qualquer roupa, óculos de Sol, banho no cachorro, banho de esguicho. Cinema, teatro, Marina, Clarissa, Thiago, André, cerveja, Cristina, Rogério, Felipe. Pizza, conversa, o tempo, fofoca, eu rio, e rio, Chico, Tom, Cartola, Vinícius, sexo, sexo, sexo, conversa, 4h38 dormi.
O aprisionamento da alma, o lugar que aprisiona, só penso e faço isso, só vejo e falo com as mesmas pessoas, as idéias mudam mas são sempre as mesmas, os assuntos mudam mas são sempre os mesmos, os mesmos pontos de vista, os mesmos conselhos, as mesmas tristezas, os mesmos problemas.... mas... e as soluções?? Não estão ali. O coração se acomoda.
Bom dia, bom dia!
Acordo 6h30, escovo os dentes, tomo banho, escolho uma roupa adequada, maquiagem, perfume, café, leite, óculos de grau, vou ao trabalho, Ana, Marcos, Ricardo, Andréa, bom dia, Rogério, Natália, Guilherme. Assino, almoço, assino, ar condicionado, debato, café, cigarro, volto para casa, compro pão, presunto, queijo, tomo lanche, comida para o cachorro, banho. Lavo um braço o outro braço, barriga, bunda, orelha, joelho, outro joelho, atrás, na frente, pé e pé, pescoço, rosto, nuca, escovo os dentes, pijama, novela, beijo, sexo, preguiça, sono, boa noite, 23h30 dormi. E encontro todas as respostas... o coração dispara!

O importante é mudar, não importa como ou o que!

é...

...




As palavras gostariam de ser doces, mas realmente eram de sal.
Senti o calor da sua voz, e o frio do seu coração.
Quem pode pesar o sofrimento que sofreu,

Se tamanho sofrimento não for seu? Ele disse....
Ninguém... ninguém pode, somente nós mesmos, pensei! Assim como só nós podemos pesar... só nós podemos mudar o que não nos faz bem, porque ninguém mais sabe esse caminho a não ser nós mesmos. Não existe nada, nada, nada no mundo que possa nos fazer tristes por muito tempo se realmente não queremos isso!
Nunca ninguém disse que viver era fácil... e não é para ninguém... cabe a nós mesmos, cada um com seu pesar, optar por ser feliz ou não!

Felicidade se acha nas horinhas de descuido!


sábado, 18 de outubro de 2008

A chama violeta


Ouvia a flauta doce do avô da barriga da mãe. O repicado e o som agradável do dedilhado no violão preenchia as tardes ensolaradas na casa 181 da antiga rua 6. Ela poderia ficar ouvindo por horas sentada na escada de mármore gelada, paralisada... Hipnotizada fisicamente, mas a cabeça voava, o coração batia esquisito. Até hoje se fechar os olhos ela pode ouvir como se estivesse dentro dela, guardado para sempre, exatamente como era. Feijão velho com farinha e macarrão... as vezes fica horas e horas pensando, lembrando cada detalhe, cada gesto, cada olhar que já recebeu, cada carinho. As vezes é capaz de lembrar o cheiro... e cada pintinha da careca e rosto, cada ruga... a veia saltada da mão que ela adorava apertar, macia. Olhos de panda. As lembranças são tão vivas que quase matam a saudade, quase... porque essa saudade e sem fim. Cachuchinha, ela ouvia, eu te amo 888, que significa eu te amo infinitamente 3 vezes. Doce. A primeira pessoa e talvez a única que a olhou nos olhos e disse eu te amo sem dizer absolutamente nada. O ritual de todas as noites era:
Açneb ohnioV, emrod moc sueD, moc so sohnijna, moc a iziZ, moc o odúiero, euq méugnin ahnet oledasep men ohnos miur, euq oãn açetnoca adan ed miur. Aob etion roma, et oma 888.
E realmente ninguém entendia, e realmente ninguém precisava entender...
Os filmes de bang bang, a borboleta azul que atravessava a parede e ninguém via a não ser eles, o cachorrinho de pelúcia de orelhas compridas, a fralda amarrada na fralda quando criança, as coxinhas do Sanchupança e as florzinhas amarelas do caminho.... e aquele arco íris... aquele que se via o começo e o fim, lembra?? Lembra? As brincadeiras com a Bê*, as implicâncias, o cobertor azul e o braço do Voinho aqueciam qualquer frio, acolhiam qualquer medo, tristeza.
É casada solteira ou viúva? E logo depois pedia um beijo na careca.
Até que um dia... a pedrinha preta caiu... aquela pretinha que morou ali no seu umbigo por anos e anos caiu. Ela procurou por toda parte, procurou e procurou, mas, a contagem regressiva tinha começado...
Saiu do quarto do hospital sem rumo, há dias já estava ali sem saber o que fazer e o que pensar... na verdade pensava mil coisas e nada ao mesmo tempo, parecia que a cabeça pensava tanto, que nem ela mesma conseguia saber o que. Cada passo que dava seu coração apertada e apertava mais. Resolveu voltar. Sentiu pressa. Pôde ver o último suspiro segundos depois de invadir o quarto em silêncio, como se estivesse sido esperada. Uma profunda inspiração sem fim... e o ar esvaziou sozinho e aos poucos, sem compromisso algum de encher os pulmões novamente. Ninguém disse ou fez absolutamente nada. Ela chorou por anos a morte de seu Voinho, antes mesmo da pedrinha preta cair, e se calou quando realmente aconteceu. Um pedacinho valioso dela morreu também naquele dia, nunca mais encontrou ninguém que tenha merecido sequer uma lágrima. Nunca mais viu outros olhos como aqueles que a cuidaram por tanto tempo, mas ela sabe que eles ainda a olham, e nessa hora, que é como um suspiro... sente seu coração completo de novo.
Eu te amo 888 meu amor! Diz ela.
Até.

* Benedita Cardoso de Melo. Conhece a minina desde que ela tinha 6 meses. Lembra dela aos 5, 6 anos brincando no cesto de roupa para passar enquanto ouvia o Jonas Donizette falando e falando no radinho a pilha. Lembra dos banhos no tanque de lavar roupa nos dias de calor e do banho de mangueira no dia de lavar a Caravan diplomata dourada. A minina comia batom quando criança, não o 24h que o gosto não era bom, mas sim aquele marrom que realmente tinha gostinho de chocolate, comia beterraba para ficar com os olhos azuis como os da prima, e parou de comer sal com medo de ficar careca. Os pãezinhos em formato de coração cresciam no forno enquanto contava para a minina suas histórias de terror, não aquelas de inventadas, mas sim aquelas que ela mesma presenciou. A minina nunca mais esqueceu o lobisomem na porteira do sítio, e até hoje procura um raio enterrado.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ela ouviu dele...

Não! Respondeu, quero só te conhecer.
O que será que ele quis dizer dizendo isso? Será que quis dizer exatamente isso?
Mas..... como? Pensou ela. Como poderia ter certeza? Como? Se ontem ela não comia beterraba e hoje ela come...
Ela não soube o que pensar por um momento, depois pensou:
Como os homens são confusos... porque eles sempre acham que sabem o que estamos pensando? Para ela esse era um dom exclusivo das mulheres.
Ela realmente não estava pensando nada, ou melhor estava sim, pensando em milhares de outras coisas. Talvez ele estivesse querendo que ela pensasse algo... mas o que?
Nesse momento o que mais a motivava era a curiosidade sobre:
Ele ronca?
Escova os dentes antes de dormir?
E não:
Ele me ama?
Vamos viver felizes para sempre?
Ela caminhou até o espelho, se olhou, fez uma breve avaliação sobre si mesma, e concluiu:
Está tudo ótimo... onde será que eu demonstro ter algum problema?
Talvez seja exatamente esse o problema de quem nasce azul... alguns vêem através, outros enxergam o que querem!
É.... hoje era um bom dia para uma boa viagem!

domingo, 5 de outubro de 2008

Pegou o telefone e discou, desligou, discou de novo, desligou, discou de novo, um, dois toques, alô? Alô?? Sua respiração... quase se podia ouvir o coração, e o silêncio preencheu todo o percurso de fio a fio, gancho, orelhas, bocas e corpos. Queria falar mas não sabia o que, queria gritar mas não sabia o que, queria explicar o que não se explica e perguntar o que não se pergunta, porque simplesmente sabia a resposta.
Desligou.
Do outro lado da linha alguém também desligou, como se tivesse ouvido tudo aquilo que não foi dito, simplesmente porque sabia o que se iria dizer, explicar, perguntar.
E nada aconteceu... e tudo aconteceu!
(“Abraço-vos pois, tempestade.
Vós decidis, se este é nosso derradeiro encontro,
ou se sereis a parteira de uma nova vida para mim”).

você!



Te vejo falando, malandro, sofrendo, despindo, e me apaixono.
Te vejo me olhando, sorrindo, cansado, suado, e me apaixono.
Te vejo no palco, no chão, pendurado, sofrendo, e me apaixono.
Na verdade eu não te vejo, não te encontro, mal te beijo, não te sinto,
e mesmo assim... eu me apaixono.
Não sei como é você... seu toque... doce? Forte?
Não sei como é você... seu jeito... sincero? Bacana?
Não sei como acorda de manhã...
Maça ou banana??
Branco?
Azul?
Mas mesmo assim...
Te gosto do gosto de graça... tem graça?
Sinto cheiro de manhã.
Te quero... nesse momento, agora!
Amanhã.... não sei....
Me toca no peito, nesse coração de pedra. Sinto cada pedrinha
resvalar-se pouco a pouco, cada grãozinho de poeira escorregar,
se soltar, deixando o peito sentir com força esse movimento
tão compassado...
Esse movimento que não temos como controlar, mas que todo dia
bate e bate, e bate, e nem o notamos...
Hoje eu reparei, é ele bate.
Te beijo,
me beija,
te vejo,
me veja,
te quero,
me queira,
teu cheiro...
Não sei se chego a te conhecer, só sei que hoje o que eu
conheço, já valeu a pena.
Porque eu senti que ele ainda bate e bate, e bate.

sábado, 4 de outubro de 2008

mexe comigo Chico, vai...


O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE)

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

não é o relógio que conta as horas


que relógio pode medir o tempo que dura um susto, um beijo, uma despedida?
quanto tempo é preciso para uma discussão, uma declaração, a volta ao mundo?
um minuto pode ser mais longo que uma hora, e uma hora mais rápida que um segundo...
o tempo que cura, e o tempo que adoece, o tempo que renova e amarga,
que preenche e esvazia.... esvazia..... de quanto tempo estamos falando?
o tempo que espera... espera.... de quanto tempo estamos falando exatamente?
como vivemos no compasso do tempo, desse mesmo tempo se para mim o tempo é mais rápido, e demorado...
nem todos os dias tem 24h!
quanto tempo dura uma saudade?
demora.... demora...
e quando chega passa rápido, rápido!
e demora.... devora....
que relógio pode contar a falta que eu sinto de você.....
meu Deus, mas...
quem é você?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

esquadros



Eu ando pelo mundo, prestando atenção em cores que eu não
sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kalo, cores...

Passeio pelo escuro, eu presto muita atenção no que o meu
irmão ouve, e como uma segunda pele, um calo, uma casca,
uma cápsula protetora, eu quero chegar antes, pra sinalizar
o estar de cada coisa, filtrar seus graus.
Eu ando pelo mundo
divertindo gente, chorando ao telefone, e vendo doer a fome
nos meninos que tem fome
.
Pela janela do quarto, pela janela
do carro, pela tela, pela janela, quem é ela, quem é ela?
Eu vejo
tudo enquadrado, remoto controle.
Eu ando pelo mundo... e os
automóveis correm para quê? As crianças correm para onde?

Transito entre dois lados de um lado, eu gosto de opostos,
exponho o meu modo, me mostro,
eu canto para quem? Eu
ando pelo mundo, e meus amigos, cadê? Minha alegria, meu
cansaço...
Meu amor cadê você? Eu acordei,
não tem ninguém ao lado.

meu coraçãozinho de pedra


toc toc
tem alguém aí??
não
posso entrar
pode tentar
tá difícil
eu sei
porque?
não sei
poxa mas eu não sou interessante?
é
então, deixa eu entrar?
não tenho a chave
mas onde está então?
não sei perdi...

será que eu sou estranha??


quem?
o que?
eu não estou entendendo....
fala...
eu não estou entendendo....
mas o que você está querendo dizer??
pode falar claramente...
eu não estou entendendo...
acho que você não tá me entendendo!
se você não falar eu não vou adivinhar...
quem?
o que?
eu não estou entendendo...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A minina que aprendeu a voar



Virou, viu os três e o que ouviu foi, vai... vai... você verá coisas horrorosas, mas verá coisas maravilhosas. Ousou entrar na floresta, se sentia segura, o corpo formigava, o coração disparado seguiu e três passos foram suficientes para não sentir mais o chão de baixo dos pés. Voou, voou, voou com tanta vontade que realmente não podia acreditar que aquilo era real, o vento, as cores, os origamis gigantes dançando, desfilavam como em uma avenida, chorou! Chorou muito! A emoção nunca transbordara com tanta coragem, sentiu Deus e gratidão, amor! Olhava para os outros dois que riam como quem diz: voe, voe, ame, sinta, chore. Um prazer inexplicável, indescritível, único e pleno. Sentiu o corpo todo livre, realmente repleto de emoção e como uma explosão, sentiu de novo o ar nos pulmões, os braços, as pernas.... aos prantos ficou por horas a fio, eram cinco horas, sentia as lágrimas escorrendo e pingando pelo queixo, mal conseguia intercalar o choro com respiração. Escreveu, escreveu e deixou o corpo novamente descansar na cama pesado. Orou, agradeceu e pediu para Deus: Me leve para outra viagem!

O minino que sabia voar desde cedo

http://www.overmundo.com.br/_banco/img/1177712809_voar.jpg

Todo dia na beira do barranco lá estava ele, Paulo, e sua boina xadrez, de braços abertos, olhos fechados e no rosto um suave sorriso. O que eu achava mais impressionante é que ele não se importava de ser o motivo da piada e um de nós, sempre provocava: Paulo, o que você tá fazendo aí?? Voando.... respondia ele agora sim com um sorriso no rosto. Mais impressionante ainda é como ontem eu não comia beterraba, e hoje eu é que estou de braços abertos na beira do barranco.
Onde estará Paulo?? Será que ainda usa sua boina xadrez??

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

ela nasceu azul


Ela nasceu azul, azulzinha como o céu, mas nunca ninguém viu.
Foi crescendo, crescendo, ficou verde e laranja com bolinhas amarelas na pré adolescência, mas nunca ninguém viu, na juventude ficou roxa e logo depois vermelho fogo, mas nunca ninguém viu, ficou cinza, preta, cinza, e depois branca, mas nunca ninguém viu.
Hoje é completamente transparente e assim, descobriu que a cada dia, as pessoas a vêem de uma cor diferente... estranho...
Mais estranho, é que ela muitas vezes não vê cor nenhuma nas pessoas!

O barulho do silêcio....

tum tum, uma moto, um avião, um carro, sirene, avião, tum tum, latidos longe, porta bate, conversa na sala, vai tomar no cu, tum tum, TV na sala, avião, carro, barulho de portão, tum tum, avião, avião, tum tum, porta de banheiro, tum tum, carro, buzina, avião, avião, avião, tum tum, cachorro, cachorro, tum tum, zunido agudo, estômago, escada sobe, sino dos ventos, tum tum, tum tum, TV no quarto, escada desce, descarga, pia, porta, balanço? tum tum, tum tum, pia, avião, avião, carro, partida de carro, tum tum, Alan? Alan? avião, relógio, saudade. nada. (o tempo todo). tum tum, tum tum, tum tum...

Sagrado Coração de Jesus


Sagrado coração de Jesus, eu me consagro inteiramente a vós: minha pessoa, minha vida, minhas ações, trabalhos e sofrimentos, a fim de empregar, tudo quanto sou e tenho unicamente para colaborar convosco na construção de novos céus e de uma nova terra. Tenho a firme resolução de ser inteiramente vosso e fazer tudo por vosso amor, renunciando a tudo que vos puder desagradar. Portanto, ó Coração Sagrado, eu vos escolho para único objeto do meu amor, para protetor de minha vida, amparo de minha fragilidade e inconstância, reparação de todas as minhas faltas e auxílio seguro na hora da minha morte. Coração de Jesus, ternura e bondade! Eu quero que toda a minha felicidade seja a de viver e morrer em vosso serviço, dedicando-me aos meus irmãos. Amém!

ela...


entra pela fresta da janela, e balança a cortina. e qualquer outra coisa perde a importancia naquele momento!!

Sozinha no meu quarto


toalha, rosa, amarelo, rosa, o gordo e o magro, máscara branca, livros, pombas, James, Diontas, Nami, Greg, Montuga, rosa rosa, lencinho de papel, abajour, dois bancos, bolsa, bíblia, bolsa, lençol de baixo, livro, lençol de cima, dragão, armário, armário, cômoda, máscara verde, máscara laranja, quadro preto, estante vermelha, livros, quadro preto, zazá, azul, amarelo, branco, o menino que não consegue parar de se lavar, o mágico de Oz, sombra, incenso, colar, colher, eu, meu rosto, roxo, garrafa, girafa, macaco, copo, coco, buda, bunda, lua, (linda), vela, livros, livros, bacia, bolsa, colar, brincos, spray, perfume, cinzeiro, porta jóias, baú, dragão, cortina, espelho, vermelho, vazio.

um branco colorido


Nem sempre sei quem sou. Ontem não gostava de beterraba, hoje gosto. As vezes surpreendo a mim mesma e aos outros, as vezes sou o que você espera que eu seja, o que você deduziu que eu fosse... outras vezes posso te surpreender, horrorizar, te encantar, deliciar, te enervar! Falo tão claramente o que penso e tenho atitudes tão transparentes que os outros as vezes não entendem ou acham que estou brincando. Pergunto diretamente o que me interessa, e falo abertamente o que quero... e o que não quero, mas algumas pessoas se fazem de desentendidas, ou riem, que pena... para elas, por isso rio também!! Canto desafinado, mas canto mais alto que todos que estão cantando, costumo dançar esquisito e usar vestidos estampados com xale, alguns acham estranho mas eu gosto. Num mesmo dia posso ser a pessoa mais feliz e infeliz do mundo. Amo e odeio ficar sozinha. Adoro cachorro, porque eles olham nos olhos e realmente não precisam falar nada. Acho estranhas as pessoas que criam uma fantasia e fazem uma cena para conseguirem o que querem, sendo que se falarem sinceramente é tão mais fácil, porque sabemos quando estão mentindo. Mário Quintana diz: Nunca olhe nos olhos de alguém, se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por ti. Penso o contrário, com todo o respeito, mas olhe nos olhos de todos, e deixe ver o que você realmente deseja.
Gosto de flores no peitoral da janela do quarto, e gosto das festas na minha casa, (adoro). Gosto de confiar, de abraçar, beijar, demonstrar, questionar. Às vezes as pessoas que eu questiono não entendem realmente o porque, mas para mim não importa porque só conhecemos aquilo que cativamos, e elas realmente não me conhecem!