sexta-feira, 24 de abril de 2009

CENA 1:



Sexta, 24 de Abril de 2009, 16h24, chove. A janela está completamente fechada e a cortina completamente aberta. A temperatura? Friozinho. Eu visto um casaco de lã bege, uma camisola listrada que não aparece, e estou coberta com o lençol branco desenhado em cinza e preto e por cima o edredom rosa. A luz está apagada, tudo está na penumbra. O computador está ligado do meu lado esquerdo, apoiado na cama. Nada se mexe, só o meu peito que respira profundamente e o letreiro que anda da direita para a esquerda sem para no fundo de tela do computador dizendo: Uma boca antiga. Escrito em rosa.
Os meus olhos olham fixamente essa cena que dura exatamente 1 minuto.

Ditado por ela



Havia uma loira sambando... sambando... num movimento suave, sambando... sambando...
A casa era dela, todos estavam ali, mas só ela sambava e sambava embaixo da luminária.
O apartamento era um Loft, muito bem arrumado e de muito bom gosto.
O som era agradável, o vinho escolhido a dedo, e no banheiro havia uma placa:
Não urine no chão,
Jogue o papel higienico no cesto.
Após o uso dê a descarga.
Lembre-se: Depois de você outros utilizarão o sanitário.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

poema primário


Eu pulo
no escuro
no passo da vida

Eu subo
no muro
Eu acho a saída

Eu tô lá
Eu tô cá
Ninguém sabe onde eu tô

Nem eu sei
Bem ao certo
Se vô ou num vô

Mas só juro
Que mudo
Se eu achar você

E se um dia
Ao acaso
Ocê me querê

Num mudo
De graça
A toa, nem vem

Só pá
Se for sério
Casório e nenêm

terça-feira, 14 de abril de 2009

eu só via o vazio no cheio



O calhamaço de discos ainda estava empilhado no canto da sala escura. A lâmpada já estava queimada há três dias... mas eu não liguei. O maço de cigarros ainda estava pela metade e o gelo do guaraná já havia derretido. O casaco apoiado na cadeira, o mesmo pedaço de livro não lido no sofá, o mesmo abraço não dado, a mesma despedida não feita. O susto. O susto. O medo, o vazio, o frio, a solidão, a dor... já não estavam mais. O susto, o surto. As pimentinhas já murchavam na sacada, o gato andava de lá para cá inquieto... fome talvez. O mesmo disco riscado toca Roberto na vitrola. A mancha de molho de tomate já secou na toalha branca da cozinha, mas eu não liguei. Havia dez novos recados na secretária, muitos diziam:
Mônica....
Mônica atende...
Mônica atende!
Você não pode ficar trancada aí para sempre!
Você tem que aceitar....
Mônica, ele morreu você tem que aceitar, abre essa porta!


Eu sabia! O que ninguém sabia, era que eu prometi para ele, que não ficaria um dia sequer sem vê-lo!

domingo, 5 de abril de 2009

a formiga: PARTE 2



A famosa nega maluca da minha mãe foi a única coisa que eu aprendi a fazer de sobremesa, e especialmente naquela noite o bolo saiu incrivelmente lindo, perfumado, e cremoso. Tirei ele do forno e já vi que estava perfeito, apoiei a forma em cima do fogão desvirei. O bolo ficou mesmo perfeito. (1 xícara de chá de leite morno, 3 unidades de ovo, 4 colheres de sopa de margarina derretida, 2 xícaras de chá de açúcar, 1 xícara de chá de chocolate em pó, 2 xícaras de chá de farinha de trigo, 1 colher de sopa de fermento químico em pó. Bata bem todos os ingredientes da massa no liquidificador. Coloque em uma fôrma redonda, untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo. Asse por cerca de 40 minutos em forno médio (180º graus), pré-aquecido). Cobri a massa fofa com a calda grossa de chocolate (Uma xícara de açúcar, Duas colheres de manteiga, quatro colheres de Nescau, uma caixinha ou lata de creme de leite, se quiser pode por um pouco de leite condensado. Esquente tudo em banho-maria, até engrossar), que derramava pelos cantos do prato. Peguei o bolo para colocá-lo em cima da mesa, e quando eu virei... lá estava ela, sozinha, me olhando. Fingi que não vi e virei para apoiar o bolo em cima da mesa, quando me virei de novo para sair da cozinha, ela estava exatamente atrás de mim, como que se estivesse seguindo o bolo, ali, parada exatamente atrás de mim como uma mini assombração. Resolvi então fazer uma armadilha. Coloquei uma assadeira cheia de água em cima da mesa, um copo virado de boca para baixo bem no meio dela, e apoiei o bolo lindo em cima do copo. Virei com um sorrisinho no rosto, apaguei a luz e sai. Umas duas horas depois voltei na cozinha para apreciar minha obra prima... e não é que a disgramenta tava lá, parecendo u confeito bem no meio do bolo. Assim que me viu tratou de se fingir de morta, acredita??? minha indignação foi tanta que eu queria esmagar ela ali mesmo, com bolo e tudo, afogar ela naquela cobertura suculenta, mas pensei, seria uma morte muito agradável. Tirei ela dali com a pontinha de um garfo e coloquei ela de novo no chão, bem no meio da cozinha, apaguei a luz e sai. Eu ia descobrir a façanha dessa danada, não era possível que ela soubesse nadar. Fui até o meu quarto, peguei meu óculo óculos ambervision (que você vê no escuro), votei de mancinho e sentei no cantinho da porta da cozinha do lado de fora, coloquei só a cabeça para dentro e comecei a procurar a morfética. Ela estava determinada subindo a parede da cozinha, nem me viu, e eu fiquei lá só de olho. Esperei os 20 minutos todo o percurso estratégico dela e fiquei chocada com o plano. Você acredita que ela escalou toda a parede e andou pelo teto até parar exatamente em cima do bolo e como uma mini suicida se jogou e caiu exatamente no meio do bolo. Fiquei uns dez minutos parada embasbacada olhando essa, essa, formiga. Acendi a luz e fui até lá, e lá estava ela se fingindo de morta, que raaaaiva!!! Pensei e decidi que dessa vez ela merecia uma trégua, cortei um pedacinho do bolo, coloquei ela em cima e coloquei o pratinho na pia e fui dormir. Na manhã seguinte fui comer finalmente meu bolo, e.... o pratinho da pia estava vazio, e ela estava lá, em cima do meu bolo de novo, pode?

o mamão formosa e você!



Você está enrolado no meu mamão!
Ontem eu comprei um mamão verde. Meu amigo que mora comigo disse: Cá vamos enrolar o mamão num jornal para amadurecer mais depressa? Concordei.
Hoje quando fui espiar... lá estava vc enrolado no meu mamão.
Uma foto bonita e grande, cobria toda a superfície do mamão formosa, e o itaú quase não aparecia!!

as cenouras, o quintal, e eu!



Hoje as cenouras nasceram na horta do quintal, as cebolinhas não, mas as cenouras estão pequenas e lindas. Ontem a noite a dama da noite floriu de novo... foi bem na hora em que eu virei música... acho que era umas quatro e meia da manhã.

episódio 01: o tal cheque




Depois de um perrengue desgraçado, chegou o dia tão esperado. O dia de buscar o tal cheque de quatro mil reais. O lugar era inacreditavelmente longe, tipo.... três ônibus e mais uma caminhadinha de uns 20 minutos. Apertei a campainha e a porta cinza de ferro se abriu, a câmera da entrada olhava fixamente para mim, entrei e fechei a porta. Era um cubículo tipo... 1m por 1m, nas outras duas paredes tinham outras duas portas de ferro cinzas, uma em cada parede e na quarta parede tinha uma janelinha com uma grade grossa e forte, cinza, e um vidro grosso que tinha apenas uma gaveta que ligava cá com lá... e atrás disso tudo do outro lado estava ela, Patrícia, a atendente que deveria me fazer o pagamento. Enquanto ela cuidava de toda a parte burocrática observei que nesse espacico tinham ainda três câmeras no alto das paredes também cinzas. Coloquei na gaveta o recibo e ela me entregou o tal cheque, abriu a porta e eu sai para meus 20 min de caminhada e os 3 ônibus. Eram 14h da tarde e meu ônibus para o Rio de Janeiro era as 17h30. Eu tinha que passar no escritório do cara que me vendeu a nota para carimbar cheque e assim poder depositá-lo na minha conta. Tudo esquematizado, a grana que eu iria gastar na cidade maravilhosa durante o carnaval maravilhoso estava a caminho do banco. Cheguei no escritório as 15h30 com o tempo contado para carimbar e ir direto para o deposito que era ali pertinho, era sexta feira e eu não podia esperar até segunda. Entreguei satisfeita o cheque para a moça, e ela posicionou ele na impressora para imprimir o carimbo no verso, na hora eu disse: Vamos colar ele numa folha sulfite?? E ela respondeu: Não precisa. E deu um ok para iniciar a impressão. Nunca vou esquecer o som de uma impressora rasgando um cheque de quatro mil reais ao meio, foi aterrorizante. A moça que falava no telefone narrava a desgraça, e eu... e eu... não disse nada por uns quatro minutos. A moça que eu nem sei o nome não me olhava e continuava narrando como se eu não estivesse lá. Levantei, pedi o cheque para ela, e fui embora. Chequei em casa, guardei o cheque, fechei a minha mala e num impulso sai correndo para o metrô desesperada para não perder o ônibus.