terça-feira, 14 de abril de 2009

eu só via o vazio no cheio



O calhamaço de discos ainda estava empilhado no canto da sala escura. A lâmpada já estava queimada há três dias... mas eu não liguei. O maço de cigarros ainda estava pela metade e o gelo do guaraná já havia derretido. O casaco apoiado na cadeira, o mesmo pedaço de livro não lido no sofá, o mesmo abraço não dado, a mesma despedida não feita. O susto. O susto. O medo, o vazio, o frio, a solidão, a dor... já não estavam mais. O susto, o surto. As pimentinhas já murchavam na sacada, o gato andava de lá para cá inquieto... fome talvez. O mesmo disco riscado toca Roberto na vitrola. A mancha de molho de tomate já secou na toalha branca da cozinha, mas eu não liguei. Havia dez novos recados na secretária, muitos diziam:
Mônica....
Mônica atende...
Mônica atende!
Você não pode ficar trancada aí para sempre!
Você tem que aceitar....
Mônica, ele morreu você tem que aceitar, abre essa porta!


Eu sabia! O que ninguém sabia, era que eu prometi para ele, que não ficaria um dia sequer sem vê-lo!

Nenhum comentário: